TRAJECTORIA HISTORICA DA IGREJA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO NO MUNDO «OS TOCOISTAS»

 

FUNDAÇÃO DO CORO KIBOKOLO COM 12 RAPAZES

 

         Depois do Dirigente, senhor Simão Gonçalves Toco ter concluído em 1937 o antigo curso dos Liceus em Luanda no então Liceu Nacional Salvador Correia de Sá, regressou à Kibokolo, Maquela do Zombo em Fevereiro de 1937, onde exerce as  funções de professor na Sociedade Missionária Baptista (BMS) de Kibokolo.

         Em Outubro de 1938, por conveniência de serviço é transferido como professor à Sociedade Missionária Baptista do Município do Bembe, onde permanece até 1942, ano em que regressa ao Município de Maquela do Zombo e parte em seguida para Matadi até Leopoldville onde, segundo o mandato divino, forma em 05 de Abril de 1943 o Coro Kibokolo composto inicialmente de 12 rapazes do qual posteriormente nasce a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo.

 

REALIZAÇÃO DO CONGRESSO INTERNACIONAL MISSIONÁRIA PROTESTANTE

 

Realizou-se o Congresso Internacional Missionária Protestante em Julho de 1946, na qual fizeram parte o Reverendo Pastor Gaspar de Almeida, o Reverendo Pastor Jesse Chiula Chipenda e o Senhor Dirigente Simão Gonçalves Toco. Nessa conferência participaram povos de diversas raças e línguas de todo Mundo, muita coisa foi tratada sobre a educação geral dos Africanos, isto é, o aumento da civilização, a igualdade de oportunidades, etc, etc, e finalmente o aumento da luz do Evangelho de Cristo. Antes que a conferência terminasse, foram escolhidos na parte Angolana, três pessoas à fim de que dirigissem a oração à Deus, nomeadamente Reverendo Pastor Gaspar de Almeida, o Reverendo Pastor Jesse Chiula Chipenda e o Senhor Dirigente Simão Gonçalves Toco.

 

A primeira pessoa pediu à Deus o aumento da instrução, educação, progresso, etc; A segunda pediu na sua oração à Deus, a igualdade de oportunidade e a prospecção de dinheiro como o homem branco. A terceira, o Dirigente senhor Simão Gonçalves Toco foi aconselhado pelos Missionários Dr. Tucker da Missão do Dondi no Huambo, já falecido e o Dr. Breecheé da Missão Filafricana de Kalukembe que não pedisse muita coisa senão o Espírito Santo, a fim de que convertesse o povo Africano que se encontrava nas trevas do pecado, porque sem a força do Espírito santo África continuaria na mesma.

 

Este pedido do Espírito Santo não deveria ser feito por um estrangeiro, mas sim por um Africano escolhido precisamente pelos Missionários que trouxeram a palavra de Deus em África. Foi assim que o Dirigente senhor Simão Gonçalves Toco pediu à Deus na sua oração a força do Espírito Santo em África e o aumento da palavra de Deus.

Em 24 de Julho de 1949, o Dirigente reúne em Leopoldville, na rua de Mayenge, quintal nº. 159, à noite, 36 pessoas para perguntarem à Deus se tinha ouvido ou não a oração que Lhe tinha sido dirigido em 1946 no Congresso Internacional Missionário Protestante sobre o aumento da força do Espírito Santo aos Africanos.

A meia noite precisamente, ouviram um grande ruído e viram uma luz. Muitos começaram a tremer, outros a falar diversas línguas que outrora não conheciam e a ver coisas maravilhosas que nunca tinham visto: pegavam ferros em brasa, tições acesas e não se queimavam. Muitos possuídos pelo Espírito Santo, iam a correr em suas casas a busca de muitas variedades de feitiços e coisas de origem mágicas com que dominavam os outros, vendendo-os misteriosamente a outras terras ou com que matavam pessoas com vista a se enriquecerem, etc. Muitos segredos foram descobertos pela acção do Espírito Santo. Foi a partir dessa data em que a Igreja de Nosso senhor Jesus Cristo no Mundo foi relembrada.

        

EXPULSÃO DOS TOCOÍSTAS DA IGREJA PROTESTANTE

        

Os Missionários Protestantes (BMS) tendo visto o crescimento da palavra de Deus e ouvindo todas aquelas maravilhas, como sabiam o motivo da sua origem, de que o Espírito Santo fora solicitado em 1946 no congresso Internacional Missionário Protestante, tiveram medo das autoridades Belgas e expulsaram o Dirigente senhor Simão Gonçalves Toco e os seus adeptos da sua Igreja à 09 de Setembro de 1949.

PRISÃO DO DIRIGENTE E SEUS ADEPTOS

 

         Devido a acção muito forte do Espírito Santo naquela cidade (ex- Leopoldville), três meses depois, as autoridades Belgas foram, em 22 de Outubro de 1949, directamente a rua Mayenge, no quintal nº 159, onde o Dirigente morava e descera o Espírito, prende-lo com mais 100 Angolanos e mais tarde cerca de 3.000 foram todos postos na cadeia  de Ofiltra onde em 22 de Novembro de 1949, o Dirigente recebe a sentença de que ele e seu primeiro grupo haviam de lá ficar dois meses e 15 dias, quer dizer, de 22 de Outubro de 1949 a 7 de Janeiro de 1950, data em que ele seria expulso da cidade da ex-Leopoldville à Angola juntamente com o seu primeiro grupo composto de 82 pessoas como diante se verá.

         Em 23 de Novembro de 1949, na cadeia, o Dirigente informa aos Mais Velhos Mavembo Sebastião, Mankota André e Makwikwila Manuel da sentença do Governo Colonial Belga e ordena a instituição do 1º grupo de 12 Mais Velhos.

 

EXPULSÃO DOS TOCOÍSTAS DO CONGO EX-BELGA

 

         Aos 9 de Janeiro de 1950 o Dirigente é expulso à Angola juntamente com um grupo composto de 82 pessoas e posteriormente são expulsos mais outros grupos, de acordo com o seguinte despachos do Governo Colonial Belga, datado de 8 de Dezembro de 1949 que se transcreve:

 

“Atendendo a que os indígenas originários de Angola, cujos nomes a seguir se indicam, praticam e manifestam o desejo de continuar a praticar os ritos de uma doutrina mística-religiosa hierarquizada, pregando uma ordem nova que sob o reino de um novo Cristo derrubará as autoridades e os poderes actuais para tomar o seu lugar e fazer reinar a justiça;

“Entendendo a que estas práticas são de natureza a perturbar profundamente a tranquilidade e a ordem pública, sobretudo na cidade indígena de Leopoldville, cujo volume das populações permitiria a extensão extremamente rápida e perigosa destas doutrinas subversivas;

“Atendendo a que se verifica que este movimento mistico-religioso apresenta afinidade evidente com as doutrinas espalhadas pela Associação ´Watch Tower’, e que se provou que o seu chefe, Simão Gonçalves Toco, está enfeudado a esta Associação como se concluí na sua correspondência com a sede de Watch Tower em  Nova York;

“São expulsos do Território da Colónia do Congo, que deverão deixar num prazo de 8 dias, a contar a data de assinatura deste despacho.”

 

ENTRADA DOS TOCOÍSTAS EM ANGOLA

 

         Após a sua expulsão à Angola, as autoridades coloniais Portuguesas procurando extinguir a Igreja, utilizaram astuciosamente a prática de divisão dos Tocoístas em grupos, enviando-os a diversas localidades de Angola, tais como Colonato do Vale do Loge, Luanda e Benguela (locais principais), Caconda, Cabinda, Porto Alexandre, Mocâmedes, Malange, Ndalatando, Cela, Baia dos Tigres, Caála, Cunene, etc e ao território da República de São Tomé e Príncipe. Nesses lugares, os Tocoístas apesar do castigo imposto, pregaram o Evangelho de Cristo.

         Por motivo de precaução, o Dirigente é retirado em 11 de Novembro de 1950 do Colonato Vale do Loge pelas autoridades Coloniais Portuguesas, acompanhado da sua esposa, filhos, sobrinhas e cunhado para Luanda e posteriormente para campos de trabalhos no Sul de Angola, primeiramente, em Caconda, onde converte muita gente ao Tocoísmo.

         Tendo as autoridades coloniais Portuguesas notado esse mo-vimento, transferiram-no com a sua família sucessivamente aos campos de trabalho de Chibia, em Janeiro de 1952, Cassinga em 1954 e Farol da Ponta Albina em 1955. Este último fica a 17 quilómetros do Porto Alexandre.

         Foi nessa altura, em 13 de Dezembro de 1950, que os Mais Velhos Mavembo Sebastião, Makuikuila Manuel, Kula David, Kanga Pedro, membros do grupo de 12 Mais Velhos, Ti Afonso Botage, etc e sua família foram transferidos a Benguela onde fundaram a Igreja de Benguela que actualmente conta com milhares e milhares de Tocoístas. Fizeram apenas 6 messes em Luanda e foram logo transferidos à Benguela.

 

REGRESSO DO DIRIGENTE A LUANDA COM A SUA FAMILIA

 

         Em 4 de Julho de 1962, o Dirigente Simão Gonçalves Toco regressa à Luanda juntamente com a sua família, vindo das terras do Sul de Angola onde cumpriu 12 anos de duros castigos. Durante a sua estadia na capital de Angola até 18 de Julho de 1963, data em que foi desterrado juntamente com a sua família à Ilha de S. Miguel, no arquipélago dos Açores, Portugal, convertem à Igreja milhares e milhares de membros.

         Embora trabalhando livremente e com suas residências fixas nos bairros, sempre como prisioneiros e perigosos, os Tocoístas eram considerados pelo Governo Colonial como um movimento profético mágico ligado à libertação de Angola e eram considerados também como comunistas, tanto mais que nos anos de 1949 e 50 usavam emblemas vermelhas e uma estrela branca de oito cantos no peito, no lado esquerdo da camisa e que, depois de 1961, mandavam regularmente uma ajuda monetária ao MPLA em Brazaville.

Assim, o Governo colonial ignorava que era o Espírito Santo de Deus descido ao 25 de Julho de 1949 e que era a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, Relembrada em 25 de Julho de 1949 na cidade de Leopoldville, actual Kinshasa, R. do Zaire. E só veio a reconhecer depois da queda do colonialismo em Angola.

 

Por esta razão, a partir do ano de 1953 a Igreja de Luanda ou a maior parte dos Tocoístas que já tinham fixado residência em Luanda desde a sua chegada em 1950, foram espalhados pelas autoridades coloniais Portuguesas à diversas localidades de Angola, onde eram sujeitos a muitas formas de opressão, bem como aqueles que pos-teriormente eram detidos e expulsos do Congo ex-Belga.   Assim, o Mais Velho Dom Afonso Fernandes Manzambi logo que chega à Luanda, expulso do ex-Leopoldville, é encarcerado na casa de reclusão durante 12 dias e transferido depois para o Porto Alexandre onde cumpriu a pena até 1956, ano em que regressou a Luanda com a família e nomeado como Secretário-Geral da Igreja de Luanda pelo Dirigente que nessa altura se encontrava em Ponta Albina a cumprir a pena.

         Em 1971 o Escrevente Geral, Dom Afonso Fernando Manzambi é detido novamente pela PIDE juntamente com os outros Velhos da Igreja e transferido para S. Nicolau onde cumpriram a pena até 1974.

         Os Mais Velhos nomeiam no seu lugar o irmão Kama Afonso como Secretário-Geral da Igreja de Luanda. Mas devido a incapacidade deste, os Mais Velhos nomearam o irmão Dombaxe Malungo como Secretário-Geral. Quando o Mais Velho Dom Afonso Fernando Manzambi regressa de São Nicolau em 1974, deixa trabalhar a vontade o irmão Dombaxe Malungo, pois verificara que o seu trabalho estava até aí bem.

         Com a queda do colonialismo Português em Angola, graças a luta armada e espiritual do povo Angolano contra a ocupação de Angola pelos Portugueses durante cinco séculos, o Dirigente senhor Simão Gonçalves Toco regressa triunfal e definitivamente em 31 de Agosto de 1974 à sua querida Pátria, vindo do arquipélago dos Açores, Portugal aonde fora desterrado, depois de lá ter cumprido a pena que durou 11 anos.

         Devido a perseguição do Governo colonial os cultos público andaram muito tempo suspensos e os membros reuniam e faziam os seus cultos nas suas casas. Com a chegada do Dirigente a Luanda vindo dos Açores, os cultos públicos foram reabertos.

         Por causa do mal entendido que houve entre a Igreja e o Governo da RPA, os trabalhos da Igreja são novamente encerrados e o Dirigente reduz todos os grupos ao menor número de 3 à 4 pessoas para resolverem certos problemas e em seguida dar a conhecer as suas soluções aos demais.

         Mais tarde, o Dirigente nomeia um grupo de 6 à 28 pessoas para oração e para estarem em contacto com as outras Classes, Tribos e os 12 Mais Velhos. Este grupo ultimamente veio a auto-intitular-se “Cúpula de Anciãos e Conselheiros da Direcção Central”.

 

         Em 1982 a Igreja contribuiu dinheiro para efeitos de viagem que o Dirigente iria efectuar a Igreja de Ntaia-Makela do Zombo. Este dinheiro calcula-se a volta de seis milhões (6.000.000.00 Kz). Mas a viagem não se efectuou porque o Dirigente queria viajar com um número de mais de 400 pessoas, incluindo Pastores, Mestres de Coro, Coristas e alguns Anciãos Conselheiros e o Governo ter autorizado apenas 20 pessoas. Daí, o Dirigente suspende a viagem. O dinheiro contribuído para a viagem esteve em poder do grupo auto-intitulado “Cúpula” e até hoje nunca apresentou o referido dinheiro.

         Mais tarde, a Igreja contribuiu novamente cerca de quatro milhões e meio (4.500.000.00 Kz) para a compra de instrumentos musicais e o referido dinheiro esteve igualmente em poder da Cúpula e os instrumentos não foram comprados.

         Quando a Igreja pediu contas do dinheiro, visto que os instrumentos não foram comprados, a Cúpula apresentou apenas quatrocentos e cinquenta Kuanzas (450.00 Kz), como saldo dos quatro milhões e meio destinados a compra de instrumentos musicais. Foi daí que surge a confusão entre os responsáveis da Igreja e o grupo Cúpula. Finalmente a Igreja concluiu que a administração da Igreja não funcionava devidamente e o aparelho administrativo da Igreja tinha que ser reorganizado, reestruturado sem punir porém os infractores.

         Feito o organigrama (da reestruturação) e apresentado à todos, o mesmo foi aceite. Por fim, decidiu-se que este novo organigrama devia ser apresentado ao Dirigente aos 8 de Janeiro de 1984, visto estarmos no período das festas de natal e do ano novo. Estes foram as conclusões da reunião do dia 21 de Dezembro de 1983, sobre o problema do dinheiro dos instrumentos musicais. Antes de tudo, o Dirigente tinha também recomendado a Cúpula que entregasse o dinheiro que estivesse em seu poder mesmo em menor quantidade.

         O organigrama e a conclusão do assunto do dinheiro não chegaram de ser apresentados ao Dirigente porque este, infelizmente morre no dia 01 de Janeiro de 1984. A partir daí, a Igreja empenhou-se na preparação do seu funeral.

 

MORTE DO DIRIGENTE E O SEU ENTERRO EM NTAIA ZOMBO

 

         De 31 para o 1º de Janeiro, às 00h00, morre o Dirigente dos Tocoístas da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo e a Igreja suspendeu todas as actividades.

         Os 12 Mais Velhos preparam o seu corpo e decidem comprar o caixão. Por fim, a Igreja decide que o corpo fosse transladado para Ntaya/Makela do Zombo.

         Assim, aos 8 de Janeiro de 1984 a caravana parte de Luanda para Ntaya Maquela do Zombo onde aos 10 do mesmo mês se realize o cortejo funeral.

        

         De regresso à Luanda, a Igreja de acordo com as Escrituras Sagradas, proclamou-se os sessenta (60) dias de luto e surge um rapazito de 12 anos de idade proveniente da Igreja do Sul de Angola, inspirado e proclama mais trinta (30) dias para perfazerem 90 dias de luto. Os Representantes das Classes em Luanda levam a questão aos 12 Mais Velhos para solucioná-la. Os 12 Mais Velhos tomam a decisão de que, como o público em geral já tinha tomado conhecimento dos 60 dias, já não era necessário publicar mais os 30 dias, pois, seria absurdo. Mas, por questão de precaução e para evitar descontentamento por parte de alguns, só os Mais Velhos (Anciãos) e os responsáveis da Igreja é que deveriam cumprir os referidos 30 dias e não o público, porque este já tinha cumprido os 60 dias publicados logo de início. Os Representantes da Igreja e a Cúpula concordam com a decisão tomada pelos 12 Mais Velhos. Mas no dia seguinte, a Cúpula muda de ideia e não aparece no culto do fim dos 60 dias de luto e toma em consideração os 90 dias de luto e não os 60 dias como estava combinado e proclamado.

 

         Quando em 22 de Abril de 1984 a Cúpula termina os 90 dias, o senhor Panzo Firmon declara que já não haveria mais unidade no seio da Igreja e também eles não poderiam trabalhar com o Governo e o Partido.

         Os 12 Mais Velhos quando foram enterrar o corpo do Dirigente no Ntaya/Makela do Zombo, após o enterro reuniram-se com os outros Anciãos e Conselheiros da Igreja de Ntaya/Makela do Zombo e decidem que a Igreja deveria ser reconhecida pelo Governo da RPA. Foi assim que no seu regresso à Luanda, os 12 Mais Velhos fazem imediatamente o pedido oficial do reconhecimento e registo da Igreja junto do Ministério da Justiça do RPA.

         Devido a desunião que começara a existir no seio da Igreja,  o Camarada Paiva Domingos da Silva, Vice-Ministro da Defesa, tendo conhecimento dessa desunião, convoca ambas as partes, com vista a reconciliação, mas a Cúpula rejeita. Mesmo assim, os 12 Mais Velhos não se limitaram a convocar os Irmãos da Cúpula à reconciliação e  chegaram até de enviar-lhes cerca de 11 cartas cujo cópias e algumas respostas estão em nosso poder, mas continuaram sempre a negar. Apenas as 18 Classes e 16 Tribos responderam ao nosso apelo de reconciliação e foi assim que os 12 Mais Velhos começaram a trabalhar juntamente com eles, mas por pouco tempo, porque estes também posteriormente o seu comportamento revelou-se negativo, já não era correcto e muito menos Cristão.

         Após a criação da Direcção Nacional para os Assuntos Religiosos (DNAR), os 12 Mais Velhos contactaram imediatamente. Daí, o Director exige a unidade da Igreja, porque só assim a Igreja seria reconhecida. Assim, os 12 Mais Velhos tentam negociar novamente com a Cúpula e apresenta-a á Direcção Nacional para os Assuntos Religiosos. Mais tarde, nota-se o frequente contacto do Director com estes últimos e não com os Mais Velhos que apresentara a Cúpula.

         O Director da DNAR convoca por fim todas as partes divididas e dá-lhes a conhecer que a Direcção só iria trabalhar com duas pessoas, mas que fossem subscritores do documento do pedido oficial do reconhecimento e registo da Igreja, porque a Direcção tinha apenas em seu poder um documento dos 12 Mais Velhos.

         Como foi atrás referido, os 12 Mais Velhos trabalharam por pouco tempo com as 18 classes e 16 tribos porque o seu comportamento não era correcto e cristão, e não queriam o conselho dos 12 Mais Velhos.

         Passado algum tempo, surgem as confusões na comuna de S. Domingos no Município de Catete, Província do Bengo. Os 12 Mais Velhos informaram a DNAR da ocorrência na sua informação nº 36/D.I/1986. Dias depois as 18 Classes e 16 Tribos prometem matar os 12 Mais Velhos e estes informam logo a DNAR na sua informação nº 37/D.I/1986.

         Num Domingo, quando as 18 Classes e 16 Tribos estavam no seu culto os seus fiscais por ordem dos seus responsáveis, atacam alguns populares, e os 12 Mais Velhos informam também esta ocorrência a DNAR imediatamente mediante a sua informação nº 38/D.I/1986.

         Em 2 de Janeiro de 1987 o Cda Roberto de Almeida, membro do Bureau Político e Secretário do Comite Central do MPLA-Partido do Trabalho para a Esfera Ideológica, reúne-se com os três grupos, nomeadamente, os 12 Mais Velhos, Cúpula e Ntemo António e dá-lhes orientações de que “o assunto do grupo Ntemo António era interno da Igreja e competia a esta resolver o seu problema; O grupo Tavares (18 Classes e 16 Tribos) infligiu as leis da Igreja e do Governo e o seu assunto está entregue a Judiciária. Quanto aos 12 Mais Velhos e a Cúpula organizem-se e nomeiem um Representante que poderá estar à frente da Igreja e após a nomeação do mesmo comuniquem-me através da DNAR e estarei convosco”.

 

         A DNAR convoca os 12 Mais Velhos e a Cúpula para uma reunião sobre a questão da Igreja e a Cúpula nega porque não recebeu oficialmente a convocatória por escrito. O Director decide não adiar a reunião e realiza-se com a parte presente, os 12 Mais Velhos, mas o Camarada Director encarrega o Camarada Lisboa Santos para dirigir a reunião e este, depois dos 12 Mais Velhos ter apresentado o seu Representante senhor Muanga Pedro conforme as orientações do Camarada Roberto de Almeida, dá por terminada a reunião, pois os 12 Mais Velhos satisfizeram a orientação do Camarada Roberto de Almeida, mas de repente, surge o Director e este decide ir pessoalmente reunir-se com a Cúpula em casa do senhor Panzo Firmon. Assim, tudo quanto se tinha resolvido com o Camarada Lisboa Santos e os 12 Mais Velhos ficou sem efeito.

         Mais tarde, o Director reúne-se com a Cúpula na DNAR e finalmente telefona ao senhor Muanga Pedro no seu serviço para comparecer naquela reunião que estava a realizar-se. Em seguida o Director decide que cada parte devia apresentar 24 elementos com vista a eleição de um Representante da Igreja.

         No dia 19 de Janeiro de 1987 efectua-se a eleição na Banca do Militante da Secretaria do Estado da Cultura onde participam 24 elementos por parte da Cúpula, 22 elementos por parte dos 12 Mais Velhos. Da parte da Direcção Nacional para os Assuntos Religiosos (DNAR) participaram o Camarada Director Songa, Camarada Teresa Cabral e o Camarada Umba. Os 12 Mais Velhos põem a questão de menos dois (02) elementos do seu lado e o Camarada Director disse que saberia superar a falha. Por amor a unificação da Igreja, os 12 Mais Velhos aceitam a ideia de votação e são votados os quatros Representantes da Igreja, a saber:

 

1º Senhor Luzaissu António;

2º Senhor Muanga Pedro João;

3º Senhor Vumambo David;

4º Senhor Panzo Firmon.

 

Apesar da Injustiça na contagem de votos, os 12 Mais Velhos aceitaram mesmo assim a ordem acima referida. Feita a eleição e apurados os Representantes, os Mais Velhos da Igreja realizam um encontro no Cine-Ngola com todos os membro da Igreja onde lhes apresentam os Representantes eleitos, recomendando a estes que deveriam acabar a partir daí com todas as antigas Direcções e formassem uma única Direcção da Igreja e isto de acordo também com a orientação do Director Nacional Para os Assuntos Religiosos, o que não se verificou, pois o Senhor Luzaissu António Lutango, eleito como 1º Representante da Igreja não queria a formação da nova Direcção da Igreja e continuou a inclinar-se ao lado da Cúpula, não obstante a insistência e os conselhos dos 12 Mais Velhos de reestruturação da Direcção da Igreja. Foi assim que os 12 Mais Velhos (Igreja mãe) deram por “sem efeito” a representação do Senhor Luzaissu António Lutango e do Panzo Firmon, aliás, o Camarada Secretário do CC do MPLA-Partido do Trabalho para Esfera Ideológica, Roberto de Almeida, numa reunião em que os Representantes dos 12 Mais Velhos e o próprio Director Nacional Para os Assuntos Religiosos que tiveram com aquele alto Dirigente em 9 de Março de 1988, repudiara por ter-se realizado aquela votação na Banca do Militante da Secretaria de Estado da Cultura, pois, é um assunto puramente religioso.

         Em 15 de Fevereiro de 1987 rebenta as confusões da Terra-Nova e a Igreja é suspensa por ordem do governo da RPA. Suspensa a Igreja, os 12 Mais Velhos dirigem uma exposição ao Camarada Ministro da Justiça e ao BP do MPLA-Partido do Trabalho, manifestando a sua inocência e pedindo a justiça. Apesar da suspensão da Igreja pelo Governo das RPA, a Cúpula continuou a celebrar os seus cultos público e os 12 Mais Velhos cumprem a ordem da suspensão que sobre a Igreja pesava.

         Enquanto os 12 Mais Velhos cumpriam esta ordem, o Partido responde as suas cartas que dirigiram ao Ministério da Justiça e ao BP através do ofício nº 1010/GAB/SECULT/87 de 5 de Setembro de 1987, a qual é desviada ao grupo Cúpula. Os 12 Mais Velhos tomaram conhecimento do mesmo em 9 de Março de 1988 por intermédio do Camarada Roberto de Almeida à quando da reunião que os 12 Mais Velhos tiveram com aquele alto Dirigente.

         Durante o tempo em que o referido documento se encontrava em poder do grupo Cúpula, estes nem tiveram a amabilidade de dar a conhecer os 12 Mais Velhos e nem tiveram a ideia de se conciliarem com os outros grupos, mas realiza a sua 2ª conferencia unilateral sem anuência de outros grupos como reza o parágrafo 1º e o ponto 16º do documento nº 1010/GAB/SECULT/87 da Secretaria de Estado da Cul-tura.

         A Cúpula convocou posteriormente muito tardiamente em 24 de Março de 1988 apenas o Senhor Muanga Pedro e o Senhor Vumambo João David com vista a participação naquela conferência sem lhes apresentar a ordem de trabalho da conferência, e estes rejeitaram por escrito o seu convite, cuja a resposta os 12 Mais Velhos remetem com decalque ao Camarada Director Nacional Para os Assuntos Religiosos.

         Dias depois, o Camarada Director Nacional Para os Assuntos Religiosos convocou oficialmente os Senhores Muanga Pedro e Vumambo João David através dos ofícios nº 98 e 99, com vista a irem na 2º conferencia unilateral que a Cúpula ia realizar e estes rejeitam alegando os motivos de não participação mediante a sua carta datada de 27 de Fevereiro de 1988.

Na reunião que tiveram com o Camarada Roberto de Almeida em 9 de Março de 1988 com o objectivo de serem intuito de saberem a respeito das suas cartas que enviaram ao Ministério da Justiça e ao BP, informa-lo da Conferencia unilateral da Cúpula e do convite tardio sem a ordem de trabalho, o Camarada Roberto de Almeida surpreendeu-se o facto dos 12 Mais Velhos não saberem atempadamente da conferência que a Cúpula iria efectuar porque realizar-se-ia com base no documento nº 1010/GAB/SECULT/87 acima referido e, em seguida apresenta-lhes o documento 1010/GAB/SECULT/87, perguntando-lhes se não tinham conhecimento do mesmo, porque era a resposta de todas as cartas que os 12 Mais Velhos dirigiram ao Ministério da Justiça e ao BP e os 12 Mais Velhos respondem que não tinham conhecimento desse documento, porque se tivessem conhecimento disso e o tivesse recebido já não seria necessário insistir na resposta das cartas.  O Camarada Rober-to de Almeida pergunta ao Camarada Director porquê que os 12 Mais Velhos não receberam aquele documento e este responde que foi um erro da sua Secretária Teresa que esquecera facultar o documento aos 12 Mais Velhos. Por fim o Camarada Roberto de Almeida faculta aos 12 Mais Velhos uma fotocópia do ofício 1010/87 e recomenda-lhes a unificação da Igreja, especialmente a reconciliação com o Senhor Ntemo António.

         Quando os 12 Mais Velhos receberam o documento em questão, manifestaram a sua alegria. Foi assim que fizeram um comunicado ao DIP para ser divulgado pela Rádio Nacional de Angola. Comunicaram logo ao Camarada Secretário de Estado da Cultura que doravante iriam reiniciar os seus cultos no local habitual, para informar aos fieis sobre o documento e iriam iniciar as negociações com os outros grupos em litígio, especialmente com o Senhor Ntemo António que se encontrava em Makela do Zombo. Ao ver isto, o Cada Secretário de Estado da Cultura concorda com a ideia e recomenda que a medida que fossem tratando disso lhe fosse informado.

        

Isto ocorreu numa reunião que os 12 Mais Velhos tiveram com aquele alto governante em 31 de Março de 1988. Em 5 de Abril de 1988 os 12 Mais Velhos receberam o ofício da Secretária de Estado da Cultura com a Ref. 472/GAB/SECULT/88, de 4 de Abril de 1988, cujo o objectivo era a unidade no seio da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo. No decorrer da reunião, o assunto não foi o mesmo, mas o Camarada Secretário leu o documento cuja a fotocópia não lhe foi facultado, que proibia de novo e somente a Igreja - Mãe (os 12 Mais Velhos) a celebrar os cultos em público e obrigando-os a integrar e submeterem-se as autoridades eleitas na dita 2º conferência unilateral realizada pela Cúpula. Esta ordem contraria o disposto no parágrafo 1º e o ponto 16º do documento 1010/GAB/SECULT/87 da própria Secretária de Estado da Cultura.

        

Como era possível, sendo os 12 Mais Velhos cumpridores da ordem da suspensão da Igreja desde ano passado e subscritores do pedido oficial do registo e do reconhecimento da Igreja junto do Governo da RPA não poderia realizar os seus cultos em públicos e só a Cúpula que o não fez devia fazé-lo? Será que a mesma  gozava realmente de um privilégio especial junto do Governo? Porque aquele grupo nunca tivera a ordem da suspensão e desde o ano passado em que a Igreja foi suspensa por ordem do Governo eles celebraram sempre os seus cultos em público.

         Como já referimos, após a reunião de 9 de Março de 1988 com o Camarada Roberto de Almeida, os 12 Mais Velhos fizeram um comunicado ao DIP para ser divulgado pela Rádio Nacional de Angola. Mas, dias depois, em 9 de Abril de 1988, estes recebem a nota nº 658/02/88, de 7 de Abril de 1988 do Departamento de Informação e Propaganda cujo teor do despacho nele exarado é o seguinte:

 

“A Igreja não está autorizada a celebrar cultos até ao fim da suspensão que sobre ela pesa. Outras atitudes como estas serão consideradas desafio as ordens dadas pelo Governo”

                                               ASS/ Roberto de Almeida

 

         Verifica-se igualmente que esta ordem contrariava a do Camarada Secretário de Estado da Cultura e assim o nosso comunicado não foi divulgado pela Rádio Nacional de Angola. Como já foi dito, os 12 Mais Velhos da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo, fizeram uma exposição ao Bureau Político e ao Ministério da Justiça, mas finalmente foi-lhes ordenado verbalmente pelo Camarada Secretário de Estado da Cultura em 8 de Abril de 1988 que a Igreja-Mãe (os 12 Mais Velhos), iniciadores e pregadores do evangelhos em Angola desde 1950, que suspendessem os seus cultos públicos e integrassem ao grupo Cúpula, obrigando-a a submeter-se as autoridades eleitas na dita 2º conferencia unilateral realizada pela mesma e que qualquer tentativa de celebração de cultos por parte dos 12 Mais Velhos o Governo tomaria medidas necessárias, querendo com isto dizer que o grupo Cúpula estava autorizada pelo Governo a realizar publicamente os seus cultos, o que estava em contradição com o parágrafo 1º e o 16º do documento nº 1010/GAB/SECULT/87 de 5 de Setembro de 1987 da Secretaria de Estado da Cultura e igualmente com o despacho acima referido do Camarada Roberto de Almeida.

         Por fim os 12 Mais Velhos escrevem ao Camarada Roberto de Almeida, se poderiam facultar ao grupo Cúpula o seu despacho sobre a suspensão da Igreja.

Os 12 Mais Velhos ou a Igreja-Mãe enquanto cumpriam novamente a ordem da suspensão da Igreja, de acordo com o despacho acima referido do Camarada Roberto de Almeida, Secretário do CC para Esfera Ideológica, esperando um resultado positivo da acordo com o documento 1010/GAB/SECULT/87, foi com alegria que ouviram o comunicado difundido pela Rádio Nacional de Angola pela Secretaria de Estado da Cultura em 11 de Maio de 1988 relativo ao levantamento da suspensão que pesava sobre a Igreja e, com espanto a menção de que foi de consentimento de todos a dita 2º conferencia unilateral realizada pelo grupo Cúpula e a eleição dos Senhores Luzaissu  António Lutango e do Panzo Firmon como Representantes da Igreja. Isto não corresponde verdade, pois tanto a dita conferencia como a eleição naquela conferência como Representantes da Igreja não fora de comum acordo dos outros grupos. Aquele grupo está sim em litígio com a Igreja-Mãe, liderada pelos 12 Mais Velhos, únicos subscritores do pedido oficial do registo e do reconhecimento da Igreja junto do Governo.

 

Depois disto, a Igreja-Mãe ou os 12 Mais Velhos reabrem os seus cultos públicos. Finalmente, os 12 Mais Velhos dirigem uma carta a sua Excelência Presidente do MPLA-Partido do Trabalho e da República Popular de Angola, o Camarada José Eduardo dos Santos, informando-o desta situação.

 

Luanda, ao 22 de Novembro de 1988.

 

A BEM DA IGREJA

 

OS REPRESENTANTES DA IGREJA DE NOSSO SENHOR JESUS CRIS-TO NO MUNDO

                  - MUANGA PEDRO (Pastor)

                             - VUMAMBO JOÃO DAVID (Pastor)

 

Está devidamente assinado e carimbado